Por Alice Barbosa, jornalista e CEO do Árbitros NBA
Fator imprescindível para qualquer profissional, a saúde mental muitas vezes é relegada a um segundo plano por diversos fatores. Falta de tempo, escassez de dinheiro e até vergonha em procurar algum método terapêutico são limitadores para que o trabalhador busque ajuda, em um mundo cada vez mais veloz e que muito exige de quem labora.
A psicóloga Bia Porfírio cita o preconceito e a resistência como obstáculos para que alguém busque tratamento. “Quando a gente fala sobre saúde mental, existem algumas coisas que precisamos levar em consideração. A primeira delas é o preconceito (…). Falar que está doente emocionalmente é ainda muito malvisto. O adoecimento mental faz parte da vida”, explica Bia.
Árbitros esportivos, como os de basquete, sofrem na pele o desgaste que a profissão traz. As escalas de jogos são apertadas e requerem viagens constantes; o ambiente de atuação é um verdadeiro caldeirão de emoções. Fora dele, abusos verbais – e algumas vezes até físicos – vindos dos torcedores são uma constante do ofício. O medo do fracasso, como pontua Bia, também é presente na vida de quem é envolvido com a prática desportiva.
Com todas estas dificuldades, somando-se ainda a distância da família, a saúde mental do árbitro é prejudicada, e seu desempenho dentro das quatro linhas gera problemas, tanto para ele quanto para times e atletas.
Um dos casos mais lendários da NBA foi o de Joey Crawford, que, em 2007, expulsou Tim Duncan do banco do San Antonio Spurs, sob o pretexto de que o astro do time de Gregg Popovich estava rindo. Mais tarde, ele admitiu estar passando por momentos conturbados, e o episódio fez com que ele, apoiado pela liga, buscasse suporte psicológico.
Para Flávia Almeida, Coordenadora de Arbitragem da Liga Nacional de Basquete e Doutora em Educação Física com um estudo inédito no Brasil sobre a Síndrome de Burnout nos árbitros de basquete, a correria diária leva a um isolamento do indivíduo. “Com o aumento da tecnologia e uma vida cheia de compromissos, as pessoas estão se isolando cada vez mais e tendo menos relações interpessoais de maneira saudável, aumentando cada vez mais o isolamento social”, explica.
“Não seria diferente com o árbitro, ainda mais porque, devido ao seu trabalho, passa muito tempo longe de casa. Para isso, é importante que mesmo com o ir e vir entre os jogos, o árbitro consiga manter uma rotina de hábitos saudáveis tanto físicos, quanto mentais. Atividade física regular, alimentação saudável, meditação, sono de qualidade, manter contato constante com a família e com os amigos (a tecnologia também auxilia neste sentido) fazem com que o árbitro possa se manter em equilíbrio, fator muito importante para seu desempenho em quadra.
O importante é sempre procurar ajuda quando sentir que não consegue resolver um problema sozinho, e a rede de apoio existente dentro do próprio grupo de árbitros é ideal para esse primeiro passo. Caso essas ações não sejam suficientes, o árbitro deve procurar ajuda especializada de um psicólogo”, aconselha Flávia.
Gatilho: suicídio
Se você chegou até esta parte, informamos que nos parágrafos a seguir há uma notícia sobre suicídio. Caso não se sinta confortável, pare agora a leitura deste texto.
Na terça (09), o árbitro uruguaio Marcel Ciechanovvechi suicidou-se, como relatado pelo El País. Ele tinha 35 anos e, por respeito ao seu falecimento, a Federação Uruguaia de BasketBall suspendeu a rodada que aconteceria no dia.
A União de Árbitros de Basquete do Uruguai, a UJOBB, postou em seu Twitter uma carta, pedindo ao governo do país que haja mais planos de ajuda e prevenção sobre o assunto. A publicação também frisa que as patologias mentais afetam toda a sociedade.