Fátima Aparecida da Silva é uma das profissionais de arbitragem mais experientes do Brasil. Sua carreira nacional e internacional, que engloba também funções de delegada técnica e coordenação de oficiais de mesa e estatísticos, tem passagens por torneios como Copa América e Jogos Olímpicos.
Fátima, como diversos profissionais da área, empreende através de sua FFF Cia. de Eventos Esportivos, uma empresa de gestão esportiva. Confira abaixo a entrevista feita pelo Árbitros NBA :
Há um movimento no Brasil de muitos árbitros com projetos de empreendimentos esportivos. Como você analisa esse momento?
Fátima Aparecida da Silva: o empreendedorismo é uma realidade no Brasil e no mundo, abrangendo vários segmentos e, aos poucos, acredito que alguns oficiais começaram a enxergar que poderiam investir em si e nas suas expertises, como gestão de equipes de arbitragem e eventos), por exemplo, visto que a demanda estava em crescimento em vários segmentos (escolas, universidades, empresas, condomínios, instituições religiosas) antes da pandemia. Além dos jogos, há a possibilidade de ministrar palestras, cursos e workshops. Todo este cenário, em sintonia com o surgimento do MEI , com o qual obtemos um CNPJ e podemos emitir uma nota fiscal eletrônica, com contabilidade fácil, tendo cobertura previdenciária de benefícios, abriram outras perspectivas para nós.
O caminho para o futuro de um profissional de arbitragem pode ser fora das quatro linhas, com essas empresas de gestão esportiva e eventos?
FAS: com toda certeza. Muitas vezes, durante a carreira, o oficial precisa se ausentar por alguns dias e nem todas empresas permitem. Assim, o empreendedorismo é uma excelente opção. Conseguimos conciliar e gerenciar as duas funções, além de auxiliarmos outros oficiais a trabalharem e também abrindo portas, pois nem todos estão nas competições oficiais como Campeonato Paulista (FPB), outros nacionais ( NBB, CBA, LBF) ou internacionais ( BCLA, Sul-Americanos, etc).
Fortalecendo-se no mercado durante a carreira, certamente, ao encerrá-la o oficial pode dar continuidade como gestor esportivo – recordando que sempre é importante manter-se estudando e se atualizando.

A sua empresa, a FFF Cia. Eventos Esportivos, já conseguiu chegar nas metas previstas como você, no lançamento dela, pensou? Quais são os caminhos futuros?
FAS: verifico que conseguimos ir um pouco além do que imaginávamos no início, quando a Fabíola T. Nascimento era sócia. Depois tivemos uma baixa, pois administrava sozinha a empresa, mantendo pouquíssimos eventos, pois conciliar as aulas na escola (sou professora de Educação Física) e atuar como microempresária, comissária/ delegada técnica ficou complicado, mesmo contando com uma equipe comprometida e que me auxiliava bastante.
Pensei em fechar, porém alguns oficiais me demoveram deste pensamento. Em 2019, convidei a Flávia Cristina Silva e a Fabiana Perozin para serem sócias, pois nossas expertises e experiências se somam. Planejamos novos rumos, porém com a pandemia, inicialmente, nos assustamos, como o mundo todo. Sem os eventos, aproveitamos para ampliar nosso trabalho junto às mídias sociais, fortalecemos novas parcerias, promovemos palestras e cursos virtuais para escolas e universidades, nos transportamos para o digital, que será um dos nossos caminhos futuros. Em breve, teremos novidades. Há muita coisa a ser realizada e acreditamos que coisas boas estão por vir.
Quando você faz uma análise de sua carreira na arbitragem, o que você destaca e o que faria diferente?
FAS: ingressei na FPB ( Federação Paulista de Basquete) aos 19 anos como oficial de mesa. Finalizei o curso de arbitragem com Antonio Carlos Affini, e naquela época mulher não poderia ser árbitro. Passado um ano, Geraldo Miguel Fontana foi nomeado instrutor e algumas mulheres formaram-se e foram designadas como árbitras. Então decidi participar do novo curso e assim comecei minha carreira de oficial de quadra. Em 1987, no Campeonato Mini-Feminino, realizado em Santo André, pela primeira vez a equipe de arbitragem foi composta apenas por mulheres – sete – e atuamos, tanto na quadra quanto na mesa.
No ano seguinte, em Piracicaba, éramos 22 mulheres, porém, infelizmente, com o passar dos anos, algumas pararam, outras permanecerem como oficiais de mesa e poucas prosseguimos na quadra. Após alguns anos, José Carlos Pelissari tornou-se o novo instrutor nos cursos de arbitragem e fui convidada a auxiliá-lo, junto com o Edson Nascimento. Nós como monitores também dávamos algumas aulas. Foi uma oportunidade de novos aprendizados e melhoria dos aspectos teóricos e técnicos de arbitragem. Em 1993, eu tive a oportunidade de participar da Taça Brasil em Guaratinguetá, junto com Tatiana Steigerwald e Elisabete Ferraciolli, além de conhecer outros árbitros nacionais e internacionais de outros estados. No final da temporada, fui eleita árbitro revelação da FPB, tendo a honra de receber o Troféu Oswaldo Caviglia em 1994.
1996 foi um ano mágico, pois comecei como árbitro regional e encerrei como internacional, após participar de cinco clínicas de avaliação (FPB, CBB e FIBA). Foram várias competições regionais, nacionais e internacionais, da base ao adulto. Isso abriu um novo mundo de viagens e oportunidades ímpares de conhecer pessoas, culturas e histórias incríveis e diferentes.
Sou grata ao basquete e às várias pessoas hoje, às que me auxiliaram na jornada. Passei também passei por alguns contratempos, que me fortaleceram, mas sempre com o apoio total e irrestrito da minha mãe, Maria Apparecida da Silva, minha maior fonte de inspiração, incentivo e conselheira, mesmo após o seu falecimento.
Qual é o posicionamento, nas redes sociais e fora delas, de um árbitro de basquete quando recebe críticas infundadas ao seu trabalho?
FAS: devemos nos manter íntegros, evitando responder. Geralmente somos mais críticos do que aqueles que possam a vir nos criticar. Tenho as críticas como reflexão, seguindo para duas posições: com fundamento, eu analiso, estudo, reconheço o que errei, treino e realizo melhor na próxima oportunidade. Já sem fundamento, eu analiso, estudo, continuo me fortalecendo e também realizo melhor na próxima oportunidade.
Como melhorar essa relação e essa comunicação entre quem acompanha a modalidade e os oficiais?
FAS: a formação e solicitações para oficiais de quadra e mesa crescem constantemente, pois as decisões sobre as regras e interpretações oficiais ficam cada vez mais específicas e detalhadas para se tomar a decisão em milésimos de segundos. Acredito que quem acompanha a modalidade deveria conhecer mais a fundo estes documentos através de leituras, participação em palestras e informações corretas da imprensa.
Diálogo, esclarecimentos e trocas de informações são ferramentas excelentes, pois há algumas diferenças entre as regras da FIBA, NBA, WNBA e NCAA.
Essa aí é fera de mais!!! Sou fã